Ajustes [2017]
Videoperformance
Cor, stereo, 16x9 1’18”
Ajustes
Como se manteria em pé um corpo castrado de memória?
Se não for somente de memória que seja constituído o corpo, desconheço por completo sua natureza.
Não há muito tempo, vivi em uma casa grande, cheia de árvores, com uma cadela três vezes maior do que eu. Foi preciso apenas 25 anos para que as paredes estreitassem os cômodos, as árvores encolhessem e a cadela, ainda que já falecida, tivesse se igualado a mim em tamanho.
Se voltar a caber nos espaços em que antes cabia, volta comigo o tempo? Volta àquela casa o corpo castrado das memórias que o impregnou? Estéril, esse corpo padeceria de um apagamento? Essa tentativa já nasce falida. Porque o corpo que falo está preso no passado e não sabe nunca ser presente. Fala somente do antes e permanece no limbo que não lhe permite ser nada além de charco.
[Como se nossas memórias não funcionassem exatamente como fitas VHS que privilegiam o recente frente ao passado.]
Aqueles espaços já não existem. [E se esses espaços só existiram na memória?] Os que tenho ao meu redor, temo que sim. Nesse hiato de tempo e espaço, ocorre-me experimentar o encurtamento de distâncias, a imobilidade e a clausura como uma estratégia qualquer de proteção contra o tempo que passa e contra os perigos iminentes ao estar vivo. E aí se ampliam as possibilidades de ressignificar os espaços através do corpo que nele se insere para que surjam novas memórias que, num movimento cíclico, reconfiguram também o corpo através do espaço. Depois de coabitarem, corpo e armário, estão ambos, um sujo do outro.
Uma vez situado, me interessa então saber até onde vai o corpo, ou quão encurtados estão nossos limites físicos. O corpo torcido sob si mesmo. Até onde suporta?
Através desta videoperformance proponho que ignoremos tamanho, elasticidade, ossos, órgãos e qualquer outro impeditivo que não permita ver-nos plásticos, arenosos, maleáveis, fluidos. Proponho que reconheçamos toda nossa natureza líquida e nos moldemos aos espaços dado.