A cada 07 anos, se inicia um novo ciclo. Cada uma de nossas células morrem e são substituídas. Você, novo. Sem coincidir, cada célula passa pelo mesmo ciclo em momentos distintos. E nos colocam para morrer e nascer repetidas vezes. Sempre.
O que não se renovam são as emoções vividas. As agressões. O sofrimento. As alegrias. As defesas. O cansaço. O vigor. As marcas de desejo. Essas se acumulam com os anos. E impregnam nossa alma.
A pele é a superfície de auto-inscrição e de registro dos sinais da aparência. Ainda que rompê-la jamais permitiria que se visse o que há por detrás. A própria pele é um “existir” que se dá a ler, a ver e a tocar.
Para além disso e de forma velada, a pele é um invólucro que encerra em si todo o nosso conteúdo legítimo e é testemunha incontestável das violações de limites físicos. O projeto Pele busca ações para recordar o domínio que tenho. Ações que, ainda que não tenham sido pensadas para responder à invasão do meu espaço pelo outro, foram descobertas numa tentativa quase inconsciente de resposta. Naturezas mortas, inertes, intocadas, impenetráveis, plásticas.
Como ponto de partida, utilizo a minha pele nessa investigação e, de pronto, esbarro nas discussões de gênero. As inquietações que movem este projeto, porém, se propõem a romper com as abordagens evidentes que permeiam as discussões sobre o corpo feminino - como o sexual, a beleza, a castidade, o modelo e o promíscuo - e evocam sensações e desejos primitivos que nos tornam todas semelhantes.
Os corpos que tocam o meu aparecem em pequenas inserções que revelam intimidade e identificação. Autenticam nas peles - através das cicatrizes, rugas e texturas - as histórias vividas no passado.
Por fim, o corpo é visto como um vasto campo de experimentações. A pele, uma elástica tela. Que histórias pode contar? Onde estaria o desconhecido desta superfície? Em que ponto começa a doer? Quando fica insuportável? Quanto tempo demora para se (re)acomodar quando a levamos até o limite? Alguém já morreu de sentir dor?